ESPHERO graphica

Grupo de Escrita Criativa

Sobre
O grupo ESPHEROGRAPHICA é um grupo de jovens estudantes com gosto e paixão pela escrita que procuram a partilha mútua de experiência literárias que possam providenciar uma evolução própria e uma melhor construção de uma identidade literária.
Objectivos
Por meio de exercícios de escrita e de criatividade, desde a dinâmica mental até à compreensão gramatical, sintática e ortográfica da língua, o grupo de escrita Espherographica visa desenvolver uma série de actividades por fim a melhor as capacidades por meio de interajuda e comunicação com outros. Aqui serão dispostos os resultados dessas sessões.
Textos
Exercício #1 - Sessão #2

Por Carol Louve

Fico-me fraco no café fraco sem forças. Tudo o que preciso é um café. Um simples café. Peço-o ao balcão e o tempo de espera entre ver tirar o café e ver a chávena à minha frente parece completamente inócuo e vazio. Mas ele chega e eu levo-o para a mesa, uma mesa discreta ao fundo, abrigada da intempérie que está lá fora. Junto-lhe metade de um pacote de açúcar e faço os movimentos circulares com a colher para apanhar o creme que vem ao de cima. É uma explosão de paz e de alívio quando o levo à boca. Estou fraco, sem forças, será que este café me vai fazer bem? A chávena está demasiado quente, apesar de eu não a ter pedido escaldada. Mesmo assim levo-a aos lábios. E é néctar divino aquilo que me escorre pelo esófago, aquecendo cada uma das minhas células, cada uma das minhas sensações, enchendo-me de paz. Respiro fundo, consigo sentir o odor das borras de café a misturar-se com o sabor quente dentro da minha boca.

Só me falta um cigarro, mas aqui dentro não se pode fumar. É tempo de ir para a rua, mas com as forças revisitadas por estes golos de café já tenho coragem.

O céu apresenta-se cinzento e claro e uma humidade está a cair do céu. É quase chuva, uma filha da chuva, mas ainda não cresceu o suficiente. O vento bate-me nas costas, na cara, levanta-me os cabelos, levanta-me o chapéu, e as gotas que estão no ar encharcam-me. Sinto-me quente por dentro, mas não é isso o que sente a minha pele. A minha pele é um escudo, uma barreira. Toco-lhe e está gelada. Os meus dedos tremem para apanhar o cigarro e mantê-lo firme entre dois dedos. Sabe-me bem a pequena chama do isqueiro cor de laranja que dança entre as minhas mãos em concha. Mas é difícil. O vento leva-a constantemente. Ela parece mesmo não querer enfrentar a rua. Deve ter medo de congelar.

Todo este vento me rodeia e parece que a energia do café se está quase a esgotar. Tenho um grande sobretudo, que comprei porque pensava que poderia vir a ser igual ao Mourinho, que me está a proteger a retaguarda. Ainda assim aconchego-o ao pescoço. Quem me dera ter trazido um cachecol… Protejo-me contra um prédio, debaixo de uma varanda onde parece haver menos corrente de ar e, um a um, torço os botões dentro das suas casas. Agora também a minha frente está protegida.

É altura de caminhar até ao meu destino, encontro social importante. Só mais uma mulher do website de encontros amorosos. Ficámos de nos encontrar num outro café, mas os nervos obrigaram-me a parar antes e a repensar nas minhas opções. São simples. Posso ir ou posso deixá-la à espera, para sempre. Vou.

Chegado ao café escolhido, olho pela vitrine. Acho que a consigo reconhecer, está sentada atrás de uma coluna que não é grande o suficiente para a tapar. Ela olha para o relógio. Continuo a observá-la. Olha para o relógio outra vez. Continuo a observá-la. Olha para o relógio outra vez. Agora solta um pequeno suspiro, coloca a mão fechada sobre o queixo e mexe com a colher numa chávena que tem à frente. Parece ser um cappuccino, mas já está terminado. Estarei assim tão atrasado?

Levantou-se, com a mala. Se calhar desistiu. Ainda bem, assim posso voltar para casa e ver mais séries americanas. Puxo doutro cigarro. E ela volta. As suas pernas dobram-se delicadamente enquanto coloca as mãos por baixo delas para que a saia não levante. Se calhar foi só à casa de banho. Levanta um bocadinho a anca… A cadeira é de verga, ela está de saia, deve estar uma ponta solta da madeira a espetar-se contra a sua pele. Alisa as roupas e volta à mesma posição.

É atraente ela.

Vou voltar para casa e ver mais séries americanas.

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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Membros
Ana Santos, Licenc. História da Arte, FCSH
José Cândido, Licenc. História da Arte, FCSH
Henrique Fernandes, Licenc. História da Arte, FCSH
Susana Pacheco, Licenc. Arqueologia, FCSH
Daniel Palmeiro, Licenc. Tradução, FLUL
Carol Louve, Mestr. Veterinária
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