ESPHERO graphica

Grupo de Escrita Criativa

Sobre
O grupo ESPHEROGRAPHICA é um grupo de jovens estudantes com gosto e paixão pela escrita que procuram a partilha mútua de experiência literárias que possam providenciar uma evolução própria e uma melhor construção de uma identidade literária.
Objectivos
Por meio de exercícios de escrita e de criatividade, desde a dinâmica mental até à compreensão gramatical, sintática e ortográfica da língua, o grupo de escrita Espherographica visa desenvolver uma série de actividades por fim a melhor as capacidades por meio de interajuda e comunicação com outros. Aqui serão dispostos os resultados dessas sessões.
Textos
Sessão #3 - Descrição Pt. II

Descrição

A descrição é uma parte essencial da literatura. Não fornece apenas o lado material e imaterial do enredo e da história como acrescenta elementos fulcrais para o seu desenvolvimento, nomeadamente no desenvolvimento para a personagem.

1. Observação

Já Sherlock Holmes dizia a Watson, “Vês, mas não observas”. Observação é o princípio para conseguir uma boa descrição. Exercícios de observação ajudam o escritor a desenvolver a percepção e a apurar os sentidos. Actividades como observar o tempo, olhar o comportamento das pessoas num café ou ver as reacções de alguém que lê um jornal ajudam-nos a entender melhor o ambiente e aqueles que nele se inserem.

Uma forma de consegui-lo é andar sempre com um bloco guardado consigo. Praticar a descrição das coisas que vê é uma forma de desenvolver as capacidades descritivas nomeadamente sensoriais. Ao anotar as observações que impressionam o escritor num bloco, este acaba por criar uma espécie de “base de dados de sensações”, à qual pode recorrer para praticar outros exercícios de escrição, reler e melhor a sua aptidão.

2. Especificidade e Clichés

O impulso do escritor é, muitas vezes, ser vago. No entanto, a descrição deve ser específica e evitar clichés. É certo que os clichés ajudam a confirmar a especificidade, no entanto, existe forma de contorná-los, por meio de sinónimos ou recursos estilísticos. Clichés como “ele correu como um louco”, “ela era bela como um dia de verão” ou “ele lutou como um tigre” são assimilações já recorridas com as quais estamos demasiado familiarizados e que em nada acrescentam ao desenvolvimento da história, e por conseguinte, não acrescentam à identidade do autor.

3. Activar os sentidos

Quando o escritor se depara perante uma cena especificamente descritiva, deverá perguntar-se as mais básicas perguntas: que cheiro evoca a cena? Que tipo de luz pode ver na cena? Que sensações evoca essa luz; que cores ela reflecte? Que reacção despoletará a observação desta cena na personagem? É importante que o escritor stabeleça esta relação com os seus cenários: se o escritor não está familiarizado com eles, não o conseguirá transmitir ao leitor.

Mas estas descrições deverão ter um propósito. A escolha do tipo de descrição, das sensações que representarão, dos elementos inseridos, deverão entrar em consonância com o objectivo da cena. Por exemplo: numa descrição de guerra é impensável haver comparações veranis, flores, cores alegres ou um cenário que se desenquadre de uma cena especificamente horrível, excepto se houve um propósito para isso (imagine-se, por exemplo, uma personagem que está à beira da morte e avista o mundo como belo nos últimos minutos de vida).

Técnicas literárias:

- Recorrência a recursos expressivos como metáforas, comparações, personificações, hipálages, animismos, sinestias, etc., por fim a criar um discurso mais fluído e agradável ao leitor esteticamente, mas nunca esquecendo a informação que tem de ser passada.

- Adjectivação mas moderada a menos que o recurso à enumeração ou à anáfora demonstre um propósito.

- O uso de advérbios é essencial para manter um discurso limpo e claro sem rodeios.

- Recurso aos tempos verbais: importante manter sempre o mesmo tempo verbal, a menos que a mudança súbita do tempo verbal demonstre uma intenção clara ou esteja inserida num discurso directo.

Exemplo: (Beloved, de Tony Morrison)

“O 124 era rancoroso. Cheio de um veneno infantil. As mulheres da casa sabiam-no e as crianças também. Durante anos cada um aguentara o rancor à sua maneira mas, em 1873, Sethe e a filha Denver eram as únicas vítimas. A avó, Baby Suggs, morrera e os filhos, Howard e Buglar, tinham fugido aos treze – assim que ao olhar para um espelho este se partira (esse fora o sinal para Buglar); assim que a marca de duas pequenas mãos surgiram no bolo (esse o de Howard). Nenhum dos rapazes esperou para ver mais; no chão, outra panela cheia de grão-de-bico a fumegar num monte; bolachas de água e sal desfeitas e espalhadas pela soleira da porta. Também não esperaram por um dos momentos de acalmia: as semanas, até meses em que tudo era tranquilidade. Não. Fugiram de imediato- no exacto momento em que a casa se empenhou em mostrar-lhes aquilo que era, o único insulto impossível de suportar ou de ser testemunhado uma segunda vez. Num espaço de dois meses, a meio do Inverno, abandonaram a avó Baby Suggs; Sethe, a mãe; e Denver, a irmã mais nova, sozinhas na casa branca e cinzenta de Bluestone Road. Na altura, não tinha nome, porque Cincinnati ainda não chegara até ali. Na verdade, só há setenta anos é que o Ohio se transformara num Estado quando primeiro um irmão e depois outro enfiaram alguma roupa no chapéu, pegaram nos sapatos e esgueiraram-se para longe do rancor vivo que a casa parecia viver por eles.” (pp. 13 – 14).

O que transmite o texto? De que assunto está a autora a falar?

Exercícios:

1. Descreve a paisagem vista por uma velha viúva cujo marido horrível tenha morrido. Não deverá ser mencionado o marido nem a morte.

2. Descreve um lago do ponto de vista de um jovem rapaz que acabou de cometer homicídio. Não deverá ser mencionado o assassinato.

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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Membros
Ana Santos, Licenc. História da Arte, FCSH
José Cândido, Licenc. História da Arte, FCSH
Henrique Fernandes, Licenc. História da Arte, FCSH
Susana Pacheco, Licenc. Arqueologia, FCSH
Daniel Palmeiro, Licenc. Tradução, FLUL
Carol Louve, Mestr. Veterinária
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